Brasília – O Brasil quer tornar mais conhecidos pela população,
principalmente a rural, os danos causados pela lavoura do tabaco à saúde dos
trabalhadores envolvidos no seu cultivo e ao meio ambiente. Mas, sem medidas
específicas de divulgação, será difícil avançar no processo de diversificação
das áreas onde o tabaco é cultivado. A avaliação é do ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, que participou ontem(10), em Brasília, de um seminário
organizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para tratar do
tema.
“Todo o esforço que nós tivemos para
divulgar os danos do tabaco à saúde das pessoas, com parcerias com a mídia e o
envolvimento de lideranças da sociedade, ajudou a consolidar no país o consenso
[sobre o assunto]. É fundamental construir um consenso no imaginário das nossas
populações, sobretudo na rural, do quão danoso é participar da cultura do tabaco
em qualquer momento da atividade produtiva. Sem ele [o consenso], vamos ter
dificuldade de avançar no conjunto de políticas que possa estimular a
diversificação”, disse.
O seminário ocorre a cerca de um mês
da Conferência das Partes (COP 5) da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco
da Organização Mundial da Saúde, marcada para novembro, na Coreia do Sul. O
Brasil é signatário do documento que, entre outras coisas, prevê o apoio a
alternativas economicamente viáveis aos agricultores de tabaco.
Mesmo sem dar mais detalhes de como
seria construído esse consenso, Padilha destacou que é preciso desenvolver ações
que envolvam vários setores da sociedade para garantir resultados semelhantes
aos conquistados com as campanhas de combate ao fumo. O ministro lembrou que
desde o fim da década de 1990 o número de fumantes no país caiu de 35% da
população para 15%.
Segundo especialistas, produtores
que trabalham no cultivo do tabaco estão sujeitos a diversos riscos, entre eles
o de intoxicação por nicotina e agrotóxicos.
Durante o evento, o ministro do
Desenvolvimento Agrário (MDA), Pepe Vargas, declarou que o principal gargalo
para que produtores de fumo diversifiquem sua atividade é a rentabilidade
superior à gerada por outras culturas. Segundo dados apresentados por ele, a
renda obtida por hectare cultivado com o cultivo do tabaco pode ser de seis a
oito vezes maior do que com milho e quatro vezes maior do que a gerada pela
produção de leite.
Entre as medidas que o governo vem
implementando para apoiar o processo de transição e tornar mais atrativas outras
atividades na terra, o ministro citou o programa de crédito subsidiado, que
garante taxas de juros mais baixas aos produtores que não cultivem o fumo.
“Também há programas de assistência
técnica e apoio à comercialização, mas enquanto houver gente fumando, vai ter
gente plantando fumo”, disse, destacando que o Brasil é um dos poucos países que
têm política de apoio à diversificação produtiva em áreas de fumicultura.
Geovane Cognacco é agricultor rural
em Leoberto Leal, município a 150 quilômetros de Florianópolis. A propriedade da
família, até 2004, era destinada exclusivamente ao plantio do tabaco. Com o
apoio de organizações não governamentais locais, como o Centro de Estudos e
Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), que oferece assistência técnica e
difunde os conceitos da agroecologia, o pedaço de terra de 60 hectares passou a
produzir verduras e uva. Segundo ele, os casos de mal-estar e de enjoo entre os
produtores diminuíram e a rentabilidade aumentou.
“Resolvermos iniciar a transição
porque percebemos que não estávamos produzindo alimento. Além disso, com o
tabaco, a gente sempre ficava doente, tinha muito enjoo. Agora, que deixamos de
cultivar esse produto, não existe mais o problema e o rendimento passou de R$ 60
mil por ano para cerca de R$ 100 mil no mesmo período”, disse.
Ele explicou que a maior dificuldade
encontrada no início do processo de transição foi garantir o escoamento da
produção. Também com a ajuda de organizações locais, ele conseguiu, aos poucos,
conquistar novos mercados. Além de vender em feiras organizadas em municípios
vizinhos, com a mudança no perfil da produção foi possível participar de
programas de compras governamentais para fornecer alimentos para merenda
escolar.
De acordo com dados do MDA, existem
cerca de 200 mil famílias de agricultores envolvidas com a produção de fumo,
concentradas principalmente na Região Sul.
Fonte Agência Brasil
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