Rio de Janeiro – O setor de emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, na
zona norte da capital fluminense, que há cerca de um ano e meio funciona em
contêineres instalados próximo ao estacionamento da unidade, foi alvo na manhã
de ontem (10) de uma vistoria de representantes do Conselho Regional de Medicina
do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). O Cremerj dará prazo de dez dias ao
Ministério da Saúde para que o problema de superlotação no setor seja
resolvido.
A presidenta do conselho, Márcia Rosa de Araújo, disse que a emergência
poderá ser fechada se o problema não for resolvido. A unidade possui capacidade
para 35 leitos, mas, atualmente, acomoda 54 pacientes em macas espalhadas pelo
corredor. Segundo a médica, um paciente deveria permanecer na emergência por, no
máximo, 24 horas, até ser encaminhado para o setor onde deve ser tratado. Ela
afirmou que irá se reunir com representantes do Ministério da Saúde para
encontrar solução para os problemas.
Maria Rosa ressaltou que, por causa do grande número de pacientes internados
na emergência, os profissionais não estão conseguindo exercer o seu trabalho da
maneira correta. “Os médicos estão fazendo o que podem para trabalhar em um
lugar que não é amplo. Não há mais vagas para colocar outros pacientes. A
situação está crítica, porque os médicos não estão mais aguentando essa forma de
trabalho sobrecarregada e insalubre”, informou.
A médica disse que o descaso na saúde pública ocorre também em hospitais da
Baixada Fluminense. Segundo Maria Rosa, os pacientes estão “órfãos” de unidades
hospitalares para o tratamento de doenças como o câncer. “O que tem que ser
feito é uma reorganização das redes federal, estadual e municipal. O SUS é
integração, o paciente tem que ter leitos de retaguarda, tem que ter organização
no sistema para botar os leitos. O paciente não pode pagar por isso e o médico
também não”, argumentou.
A maioria dos pacientes chega ao setor, segundo a direção do hospital,
acompanhada de parentes ou vem transferida de outras unidades públicas que, por
falta de leitos, acabam reencaminhando esses doentes. Ainda de acordo com a
direção do hospital, grande parte dos pacientes internados no setor de
emergência está em estado terminal. Alguns sofrem de doenças como tuberculose ou
câncer.
A direção da unidade informou que as obras de reforma da emergência, que
atende a cerca de 300 pacientes todos os dias, estão paradas há quase dois anos.
O hospital alega que a decisão de embargar as obras de reestruturação do setor
partiu do Ministério da Saúde, que constatou superfaturamento na compra de
alguns materiais utilizados na reforma, após vistoria da Controladoria-Geral da
União (CGU). Foram disponibilizados R$ 8 milhões somente para a emergência do
hospital.
O taxista Nilton Rodrigues da Costa, 53 anos, cujo pai está internado na
emergência desde ontem, se diz humilhado com o descaso. “É você se sentir como
um animal. Não tenho nem palavra. Eu acho que meu pai deveria ter um atendimento
digno. Eu acho que é desumano. Agora que foram fazer um raio X dele. A notícia
que eu estou tendo é essa”, disse. Procurado, o Ministério da Saúde não
respondeu à reportagem da Agência Brasil até a publicação desta
matéria.
Fonte Agência Brasil
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