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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Projeto de saúde monitora prematuros por até 20 anos

Fernanda Aranda/ iG São Paulo
Projeto da Unifesp monitora prematuros por 20 anos. Na foto,
os pés de Eduarda, nascida com menos de um quilo
Para prevenir doenças físicas e psicológicas, iniciativa da Unifesp acompanha cem crianças que nascem todos os anos antes do tempo
 
Nas próximas duas décadas, todos os passos dados pelos pés da foto acima serão monitorados. Por enquanto, os membros de apenas 4 centímetros – menores do que um polegar adulto – precisam crescer mais na incubadora, recebendo oxigênio e alimentação por sonda.
 
A dona dos pezinhos inquietos é Eduarda, nascida no dia 18 de setembro, pesando 846 gramas, depois de uma gestação incompleta de 6 meses. A condição de saúde frágil a levou direto para UTI do Hospital São Paulo, sem previsão de alta. Apesar dos médicos não conseguirem estimar o tempo de internação, eles já prescreveram a receita de um desenvolvimento seguro: 20 anos de acompanhamento intenso após a alta hospitalar.
 
Isso porque os estudos científicos mostram que os bebês com baixo peso extremo (menos de 1,5 quilo) crescem mais suscetíveis a problemas cardíacos, pulmonares, ortopédicos e neurológicos quando comparados às crianças que nascem de gestações de nove meses completos.
 
“As piores condições de saúde, por vezes, demoram a se manifestar, em especial quando são psicológicas. Por isso, decidimos que todos precisam ser monitorados até, no mínimo, os 19 anos e 11 meses” afirma o professor de neonatologia Benjamin Israel Kopelman, um dos idealizadores do Programa de Monitoramento do Prematuro da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
 
O trabalho é feito em parceria com a ONG Viver e Sorrir, por equipes de psicólogos, assistentes sociais, pediatras, nutricionistas e cardiologistas. Todo ano, cerca de cem crianças que nascem com menos de 1 quilo são encaminhadas ao programa.
 
“É isso que vai proporcionar uma vida adulta saudável, independente e com menos sequelas. O prematuro, não importa a idade, sempre será um prematuro”, completa Kopelman.
 
O programa da Unifesp nasceu há 8 anos e foi desenhado de acordo com as demandas colhidas na maternidade São Paulo. Voltado às famílias de baixa renda, o trabalho também é social e já garantiu aparelhos de surdez, cadeiras de roda e próteses ortopédicas aos participantes, tudo por meio de doações.
 
No total, 800 prematuros são monitorados neste projeto. A mais nova é a Eduarda, dos pezinhos de 4 centímetos. O mais velho, Gustavo Martins Pereira, 8 anos, é torcedor do São Paulo, fã de Power Rangers e apreciador de “macarrão de gravatinha com salsicha”.
 
“Como três pratos cheios e ainda quero mais”, diz ele, deixando para trás os tempos de alimentação difícil, que o obrigaram a passar quatro meses na UTI só para ganhar peso.
 
“O Gustavo nasceu com 790 gramas, após seis meses de gestação e eu não conseguia acreditar que ele sobreviveria”, lembra a mãe Eliane da Silva Martins, 40 anos.
 
“Eu ficava ao lado do leito da UTI rezando para ele engordar. Todo dia era uma vitória. Hoje, ele frequenta a escola, não tem nenhum problema cognitivo e, meu Deus, como é arteiro”, reclama e comemora – simultaneamente – Eliane.
 
Até o terceiro ano de vida, Gustavo voltava a cada dois meses para ser avaliado pela equipe. Hoje, as consultas têm espaçamento de um semestre. O monitoramento dos outros prematuros é definido de acordo com o desenvolvimento de cada criança.
 
“E quando elas desaparecem, mudam de casa, nossas assistentes sociais fazem a busca e reforçam a importância da participação no projeto”, contou Kopelman.
 
Pesquisa
Além dos atendimentos clínicos e sociais, também é responsabilidade da equipe do programa da Unifesp fazer pesquisas sobre o desenvolvimento, os tratamentos mais efetivos e as condutas mais exitosas com os prematuros.
 
Isso porque o número de nascidos antes do tempo está em ascensão. O novo relatório do MInistério da Saúde mostra que em 10 anos – entre 2000 e 2010, eles passaram de 6,7% do total de nascimentos para 7,1%. Em São Paulo, informa a Fundação Seade, os prematuros já são 9%.
 
As explicações para esse crescimento são o aumento da idade materna, a proliferação dos tratamentos de fertilização assistida e também os próprios avanços da medicina que garantiram a sobrevivência das crianças muito pequenas e a realização dos partos de gestantes de alto risco.
 
“Mas ainda temos muitos desafios. Os prematuros somam 40% das crianças que não sobrevivem até completar 5 anos”, afirma Ana Lucia Goulart, chefe da Disciplina de Pediatria Neonatal da Escola Paulista de Medicina.
 
Gustavo é um dos sobreviventes. Por meio desta vigília médica, aos 4 anos, começou a usar próteses na perna esquerda, que crescia em desvantagem com relação à direita. Deu certo.
 
Os pés do menino – assim como o de Eduarda, os pés dele nasceram com apenas 4 centímentros – hoje calçam tênis tamanho 24, compatível à idade.
 
“E pulam na cama, sobem e descem escada correndo, jogam futebol”, descreve, com orgulho, a mãe Eliane.
 
Fonte iG

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